sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Feliz Boxing Day!


Hoje, 26 de dezembro, é Boxing Day. Dizem que tudo começou quando um certo rei (não me lembro quem), num ato magnânimo, resolveu distribuir presentes aos empregados, como forma de agradecimento pelos serviços prestados durantes as festividades de Natal.

Mas na verdade mesmo, o Boxing Day é o Dia Nacional Para Se Curar a Ressaca. É que aqui no Reino Unido a festividade de Natal acontece durante o dia 25, geralmente com uma grande refeição em família e, lógico, litros e litros de bebida alcóolica. Até porque não há muito mais o que fazer: nem o transporte público funciona no dia 25 de dezembro.

Bem, eles ficam tão bêbados que se esquecem até dos presentes, daí que alguns falam que só deixam pra abrir os pacotes no dia 26... :p

Enfim, num país em que a existência dos feriados teve que surgir a partir de um decreto de lei, ter dois dias seguidos de folga é o mesmo que ter a benção dos deuses. Bendito Boxing Day! :D

Na foto: O Convent Garden com as suas luzes de Natal.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Canary Wharf, ou A Força da Grana


Imagine a Avenida Paulista. Agora transforme-a em um bairro, e desloque-a para uma área relativamente periféria da metrópole. Tire dela tudo o que for subdesenvolvido e humano: deixe apenas os arranha-céus imensos, os logotipos de banco, e as pessoas de terno falando desesperadamente ao celular. Enfim, tudo o que remeter diretamente ao mundo financeiro e ao seu ritmo de vida vertiginoso. Imaginou? Então coloque um rio no meio. E assim você terá mais ou menos uma idéia do que é Canary Wharf.

Se a City é produto da História, com o fluxo de dinheiro correndo por aquelas vias há séculos e séculos, Canary Wharf é a invenção do presente, do capitalismo que vivenciamos e conhecemos muito bem. É fruto da era yuppie dos anos 80 de Margaret Tatcher e do neoliberalismo dos anos 90 de Tony Blair. E, claro, agora sofre os danos do desastre econômico nos anos 00 de Gordon Brown - Um arranha-céu inteirinho teve que ser desativado com a falência do banco norte-americano Lehman Brothers há alguns meses.

"Wharf" é uma espécie de cais. E "Canary" faz referência às Ilhas Canárias, o lugar de onde vinham a maioria dos produtos que chegavam naquela parte do rio. O como e o porquê de Canary Wharf virar o que virou, eu realmente não sei.

Se você chegar lá de noite, poderá ver a maioria dos prédios de luzes acesas, as salas ocupadas, gente trabalhando incessantemente porque, em algum lugar do mundo, é dia e o dinheiro não pode parar. Mesmo nos pubs há telões que apresentam a cotação das bolsas, as taxas de câmbio e as notícias que podem abalar o mundo financeiro. Canary Wharf é como se fosse uma bolha que impede qualquer distração completa do assunto principal: dinheiro.

Será que é por isso que as pessoas que andam por lá parecem tão infelizes? Fica aí a pergunta.

OBS 1 - Cliquem aqui para ver mais fotos de Canary Wharf.

OBS 2 - Manterei esse layout por algum tempo, depois voltarei para o antigo. Ou colocarei um novo, ainda não sei... ;)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Ah, se essa rua fosse minha...


Adoro a praticidade dos antigos. Como chamar um lugar que tem uma fonte termal muito famosa? "Bath". Como chamar uma rua que vende artigos baratos? "Cheapside" (essa da foto). E uma rua onde se vende carne de aves? "Poultry".

Salvador, que começou como uma espécie de fortaleza medieval, também tem uns nomes ótimos. "Pelourinho", "Rua Direita da (a que vai dar direto na) Piedade", "Praça da (Catedral da) Sé". E as ladeiras? "Ladeira da Misericórdia". "Ladeira da Preguiça". "Ladeira do Funil".

Todos são nomes que remetem diretamente ao uso do lugar, e guardam um pouco da história da ocupação do território, da maneira como as coisas se organizaram dentro de determinada cidade, e da especificidades de cada rua, ladeira, praça, etc. Afinal, mesmo que Cheapside não seja lá um lugar muito barato hoje em dia, pelo nome já dá pra imaginar um pouco de como era no passado...

Onde será que as coisas deram errado? De repente começaram a surgir nomes pomposos e completamente deslocados da realidade do lugar. Isso acontece principalmente no Brasil, onde se batizam ruas com nomes como "Rua Coronel Genevaldo Ferreira da Anunciação" (nome fictício, mas que poderia ser verdade). Alguém sabe quem é a figura? Não. Há alguma relação entre o nome e o lugar? Não. Na maioria dos casos, as pessoas simplesmente esquecem do nome da rua e dão a ela apelidos como "a rua da escola" ou "a rua do supermercado" ou ainda "a rua do prédio Tal".

Claro que há as cidades planejadas, onde as ruas atendem por números e, em muitos casos, faz até muito sentido. Dizem que Nova York é um desses exemplos. Brasília também, apesar de que lá o que complica não são as numerações, mas sim o fato de que todas as quadras parecem ser iguais.

Mas e quando o lugar é planejado, e ainda assim os nomes são completamente absurdos? Isso acontece no bairro da Pituba, em Salvador, que tem ruas com nomes dos estados brasileiros. Poderia ser até interessante, se a rua Amazonas não fizesse esquina da Rio Grande do Sul, ou se a rua Acre não fosse paralela à rua Bahia. Qual o sentido de ser planejado, se ninguém se dá ao trabalho de propor alguma lógica?

Quer saber? Queria mesmo era morar numa rua chamada "Um Dois Três de Oliveira Quatro", ou "A soma do quadrado dos catetos é igual à soma do quadrado da hipotenusa", ou ainda "Sou Pobre, mas sou Feliz". Porque, já que é pra ser absurdo, que pelo menos seja divertido. ;)

PS- Mudei o layout do blog, espero que agora esteja mais fácil pra ler. :)

domingo, 7 de dezembro de 2008

O sol... O sol? O sol!


Um dia desses eu saí de casa e estava fazendo sol. Caro leitor, se você não morar e nem nunca tiver morado nessa estranha ilhota chamada Grã-Bretanha, não saberá o que isso significa e nem entenderá o que eu senti naquela hora. Fazia o quê... Dias? Semanas? Desde que eu tinha visto o sol pela última vez.

Antes de vir para cá eu achava curioso o fato de os britânicos serem tão obcecados com o clima. E, chegando aqui, percebi que o que aparece nos livros e filmes é verdade: qualquer conversação entre britânicos acabará, inevitalvelmente, chegando nesse assunto. Existem lugares muito mais frios e com certeza existem lugares bem mais quentes. Em termos de temperatura, o clima da Grã-Bretanha é, digamos, relativamente ameno. Então, por que tanta reclamação?

A questão é a onipresença do trifásico básico na vida dos habitantes da ilha: céu nublado, vento e chuva. Não aquela chuva torrencial dos países tropicais, mas uma chuva fininha e irritante que parece entrar nos seus ossos aos poucos. E um vento cortante, gelado, que faz você se sentir como se suas orelhas tivessem virado pedaços de picolé. E o céu, ah o céu... Não se trata de uma simples cor quando se olha para cima, mas de toda uma luminosidade que impregna tudo de cinza.

E então, como um milagre da natureza, aparece o sol. E você se sente como se um peso tivesse sido tirado das suas costas. E lembra que sim, o mundo é belo e a vida vale a pena a ser vivida. E que toda a sua depressão anterior era causada por ele, o clima. E então começa a entender por que os britânicos ficam parecendo crianças quando estão debaixo do sol, e querem receber todos os raios de luz possíveis (qualquer que seja a intensidade), mesmo que isso signifique passar dos limites e tostar suas peles brancas.

Por isso, caro leitor, da próxima vez em que você olhar pela janela e o dia estiver ensolarado, pense em mim e em todos os moradores dessa ilha e sorria. Pois, acredite em mim, tudo parece muito pior quando não se tem luz.

PS- Vocês perceberão que a resolução desta foto é menor do que a das fotos postadas anteriormente. É que esta foi tirada com a câmera do celular. Eu sabia que não havia tempo hábil de ir em casa e pegar a câmera, pois quando eu voltasse o sol já teria se escondido. E sim, isso aconteceu de fato. :P

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

De uma antiga escola e seus alunos ilustres...


No livro "Notes from a Small Island", o escritor norte-americano Bill Bryson comenta que, pelo fato de a Inglaterra ter tantos filhos ilustres e tanta História, há uma atitude displicente em relação à preservação da memória. É como se o sentimento geral fosse: "Um prédio antigo a mais ou a menos não faz diferença". E tome-lhe atentados contra o bom-senso em tentativas (geralmente mal-sucedidas) de modernização.

Um exemplo dessa atitude estúpida está para acontecer no meu bairro. Estão para demolir a George Mitchell School, escola pública que foi fundada em 1903 sob o nome de Farmer Road School (Farmer Road é literalmente a rua vizinha à minha).

A justificativa é que o prédio seria antigo demais, feio, e estaria com as estruturas deterioradas. E, com isso, está prestes a desaparecer a única escola ainda em atividade da Inglaterra que tem entre seus ex-alunos dois merecedores da Victoria Cross, a mais alta condecoração militar concedida pela Família Real Britânica em reconhecimento à bravura frente a exércitos inimigos.

31 de maio de 1916, Primeira Guerra Mundial. O navio Chester fazia a patrulha da costa durante o que entraria para a História como a Batalha de Jutland. Vendo uma fumaça suspeita, o comandante decidiu averiguar. De repente, eram quatro navios da frota alemã cercando o Chester, bombardeando intensamente o seu convés e causando sérios danos à sua estrutura. Os atiradores foram sendo derrubados um a um, a maioria morrendo de hemorragia devido à perda de braços ou pernas.

Em meio ao mar de sangue, carne e estilhaços, só um atirador britânico permaneceu de pé: Jack Cornwell, que deixou a antiga Farmer Road School para se juntar à Marinha escondido do pai. O "Garoto", como era chamado, tinha pedaços de aço lhe perfurando o peito, mas mesmo assim continuou empunhando a sua arma, esperando por ordens que nunca chegariam. Foi o único encontrado vivo pela equipe de resgate, e chegou a ser levado ao hospital, mas já era tarde demais. Morreu aos 16 anos de idade, e até hoje é o mais jovem dentre os que receberam a Victoria Cross.

23 de janeiro de 1944, Segunda Guerra Mundial. Nas montanhas da Itália, uma unidade avançada do batalhão The London Scottish foi surpreendida por um intenso ataque da artilharia alemã. Foi então que o soldado Mitchell, 32 anos, resolveu subir a colina sozinho. Chegando ao lugar onde estavam os atiradores, lutou e conseguiu matar todos eles. Pouco depois, novo confronto e nova investida solitária do soldado Mitchell. Dessa vez, ao invés de atirar em todos, resolveu ter misericórdia e fazer alguns prisioneiros. Péssima escolha: Um deles tinha uma arma escondida, e atirou no soldado britânico pelas costas. Quando a guerra acabou, a antiga Farmer Road School foi rebatizada com o nome de um dos mais seus bravos e habilidosos ex-alunos: George Mitchell.

Uma escola comum, aparentemente velha e desgastada, num bairro periférico de Londres. E, no entanto, quantas histórias, quantas memórias e quantos heróis, famosos ou não, devem ter passado por aquelas paredes...