quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Milhões de turistas não podem estar errados


Quando eu tinha uns 13 anos, Bali estava na moda. Cigarros de Bali, tecidos de Bali, músicas falando de Bali. A ilhota indonésia ocupava o imaginário dos adolescentes que, como eu, frequentavam bastante a praia. Era como se Bali fosse o "verdadeiro" paraíso natural, um lugar exótico e quase místico, distante de tudo e de todos.

E eis que, cerca de 15 anos depois (meu Deus, como estou velha :p), vejo do avião a costa balinesa se aproximando, com seu extenso quebra-mar que a protege das ondas selvagens. A primeira coisa que me vem à cabeça é que, em Salvador, o mar é mais verde e o céu, de um azul mais escuro. E a segunda: Tudo bem. Mar e céu de um azul cristalino também fazem o meu tipo.

Obviamente, Bali é um dos destinos turísticos mais conhecidos do mundo. Por isso mesmo, é muito mais rica, limpa e organizada do que Yogyakarta. E eles estão em toda parte, e não são só holandeses: australianos, alemães, canadenses, ingleses, dentre outros, todos tentando tostar a pele e parecer à vontade nesse pedacinho de paraíso tropical.

Então vamos em rumo à cidade que é considerada a "verdadeira" Bali: Ubud, que fica no centro da ilha, no meio das montanhas. A cidade, que é uma gracinha, também é bastante turística, apenas é focada mais na parte religiosa e cultural — Os balineses, apesar de fazerem parte de um país muçulmano, ainda preservam a sua religião hindu.

Atrações em Ubud não faltam. A principal delas é a Floresta dos Macacos, um santuário ecológico onde vive uma espécie típica do sudeste asiático, chamada em português de Macaco-caranguejeiro. A floresta é relativamente pequena, mas apresenta templos e um cemitério hindu muito interessante. E bem, os macacos, bem-acostumados com os turistas, são um espetáculo à parte.

Mais para o centro da cidade, visitamos um belíssimo jardim de flores de lótus, seguindo depois em direção à extensa plantação de arroz que fica mais ao norte da cidade. Caminhada cansativa, mas que valeu a pena: a delicada engenharia de camadas desenhadas nas colinas, o múrmurio do vento por entre o verde-vivo da plantação, os pequenos templos envoltos em vastidão e camponeses com expressões cansadas, porém tranquilas. E então, eu pensei: Essa sim deve ser a verdadeira Bali.

E voltamos ao hotel, na praia de Sanur, acordando no dia seguinte de madrugada para reverenciar o nascer do sol. E depois o mergulho no mar, nas águas rasas, mornas e cristalinas do Oceano Indico. "Bali é super-lotada. É difícil achar um lugar nessa ilha que não tenha turistas", alguém me falou. Mas, confessa, vai. Não é tão ruim assim ;P

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mais perto dos Deuses


A idéia é genialmente simples. Você começa no solo, no nível mais básico dos desejos e prazeres mundanos, mas ao longo da caminhada descobre a necessidade de refinamento espiritual, e segue um caminho em espiral em direção ao topo, conhecendo e se reconhecendo nas narrativas de pessoas com as mesmas experiências que você. E então, quando chega no topo, já está pronto(a) para se dissolver no mundo sem formas da imensidão do céu azul. E então, dizem eles, você atinge o Nirvana.

Esse é o caminho natural da vida segundo os antigos budistas javaneses. E Borobudur, o fantástico templo construído no século VIII d.C, é uma transcrição arquitetônica rigorosa desses preceitos. Situado num vale rodeado de (adivinhe!) vulcões, a cerca de 1 hora de Yogyakarta, é reconhecido como um patrimônio cultural da humanidade, além de ser o maior monumento do Hemisfério Sul.

Mas, no século VIII, as coisas eram um tantinho complicadas. Não eram só os budistas que clamavam o domínio da ilha; os hindus também estavam doidos para demarcarem terreno, e foi aí que Prambanan, outro patrimônio cultural da humanidade, foi erguido. Também a cerca de uma hora de Yogyakarta (mas em direção oposta a Borobudur), dessa vez em um considerável terreno plano, que acabou dando lugar também a outros templos menores e alguns, vejam só, são budistas.

Mas voltando a Prambanam: ao invés de um único grande templo, os hindus construíram um complexo intrincado, cujos três principais templos são dedicados às três maiores divindades da religião: Brahma (aquele que cria), Vishnu (aquele que mantém) e Shiva (aquele que destrói). Cada templo recebeu inscrições e estátuas relacionadas aos mitos de cada deus, incluindo grande estátuas dos animais utilizados por eles para transporte. Assim, Brahma possuía o cisne Hamsa, Shiva utilizava a grande águia chamada Garuda e Vishnu, o boi Nandi, o único cuja estátua sobreviveu.

Assim como Borobudur, trata-se de um conjunto arquitetônico incrível, ainda que uma parte tenha sido destruída por um terremoto em 2006.

De qualquer forma, o que ficou registrado foi o incrível legado dos dois grandes reinos, que um dia utilizaram todos os recursos que tinham para consolidar sua posição sobre o solo instável de uma ilhota ensolarada chamada Java.

E assim seguimos para Bali...