Foi a primeira vez que visitei o sul da França. Na verdade, a primeira vez em que estive na França sem ser em Paris.
A primeira coisa que me impressionou foi o sotaque: Forte, árido, de vogais abertas. Sem essa de fazer biquinho, nem de falar manso, nem de tentar seduzir. O francês de Carcassone era cordial e aberto, sem mistério, sem afetação.
E depois eu descobri que o francês nem era a primeira língua da região: Eles originalmente falavam a língua occitana, que ao longo de séculos foi duramente suprimida em favor do francês "civilizado", estando perto da extinção atualmente.
Sim, porque a história daquela região é uma história de derrota. A fortaleza que foi impenetrável durante séculos, garantindo a prosperidade da cidade-estado como entreposto comercial entre França e Espanha, foi invadida e dominada na época das cruzadas. E a sua população original, denominada de herege e perseguida. E então veio o Estado Francês, com suas regras, suas leis, sua língua e absorveu Carcassonne, que deixou de se governar e passou a ser mais uma cidade a ser sugada por Paris.
Talvez por isso eu tenha gostado tanto de lá: Apesar do histórico de dominação e derrota, apesar das dificuldades econômicas, da dependência do dinheiro dos turistas, apesar da distância geográfica de quem faz as leis. É um povo amigável, feliz e que indiscutivelmente sabe aproveitar a vida.
Parece um pouco com um lugar que eu conheço, chamado Bahia.